TREXY
Passado um momento de efervescência das discussões acerca da relação entre arte e mídia, houve uma naturalização precoce e uma habitualidade com a questão, sobretudo no pós pandemia onde a virtualização foi a norma. No entanto, as inovações imprevisíveis dos meios tecnológicos mostram que este território ainda está em processo aberto de desbravamentos e investigações sobre suas possíveis semioses.

A produção da artista paraibana Trexy retoma essa discussão através da sua série de gifs, compostos pela união entre foto-performances e colagens digitais, contribuindo para a abertura de uma nova possibilidade no território interseccional da arte e tecnologia.

Em seu processo de fatura artística, a artista explora uma gama variada de aplicativos de edição, todos muito rudimentares, cujos efeitos de deterioração na qualidade gráfica da imagem propõem exatamente evidenciar as fragilidades dos contextos tecnológico típicos das localidades subdesenvolvidas, fazendo, conscientemente, do precário elemento poético constitutivo. Este precário, que irá desdobrar-se a partir do kitsch para tomar a forma de trash culture envolve muitas vezes a poética da artista em fruições contraditórias. Alia sedução e agonia, gozo e temor, alegria e desespero num arremate contínuo de imagens pulsantes.

Há que se atentar também sobre o queer: o corpo da artista, amplamente utilizado enquanto matéria, aponta para os processos de trans-binariedade, seja através duma da moda, ou por foto-performances articuladas num contexto de cotidianidade qual demonstram que a condição trans é uma vivência idiossincrática à poética, além do uso de maquiagens típicas da cultura das drag queens.

Tal qual uma Fita de Moebius, que rompe com a possibilidade de narrativas lineares, o que se pode extrair de uma modalidade audiovisual de repetição infinita é a assonância como único enunciado possível.

Gifs, o local do precário e trans-binariedade.
Walter Arcela